Qual é o principal erro que Vítor Pereira está cometendo no comando do Corinthians?
Qual é o principal erro que Vítor Pereira está cometendo no comando do Corinthians? - Marcos Doniseti!
Sou um defensor do Vitor Pereira. Entendo que ele é um excelente treinador, bastante competente e qualificado, que possui uma trajetória vitoriosa em sua carreira.
Espero e torço muito para que ele treine o Corinthians por uns 3 anos, no mínimo, com o objetivo de reorganizar o futebol do clube, que está bastante endividado e que precisa pagar estes compromissos nos próximos anos, reduzindo o valor dessa dívida, que está em pouco mais de R$ 910 milhões (sem incluir o valor da dívida da Neo Química Arena).
Inegavelmente, Vítor Pereira faz um trabalho muito importante de valorização dos jogadores originários das categorias de base, sendo que três deles já podem ser considerados praticamente titulares do time, que são Lucas Piton, Du Queiroz e Mantuan. João Victor e Raul Gustavo também continuaram a ter muito espaço com ele no comando.
Esse trabalho, que é extremamente importante para que os jogadores da base possam evoluir tecnicamente e se valorizar para futuras negociações (o que ajudará o clube a pagar as suas dívidas) não existia com os treinadores anteriores.
Assim, muitos jovens jogadores que não tinham espaço sequer nos treinos com os profissionais, agora são utilizados em partidas importantes, como são os casos de Wesley (entrou ontem contra o Cuiabá) e Felipe Augusto (entrou na partida contra o Atlético-GO). Robert Renan, zagueiro de apenas 18 anos, também já atuou como titular sob o comando de Vítor Pereira.
Porém, entendo que Vítor Pereira está cometendo um grave erro no comando do Corinthians e que está prejudicando o desempenho do time, que é o fato dele mudar demais o esquema tático e a escalação do time de uma partida para a outra.
E isso acontece em um momento do ano em que não há nenhum tempo livre para treinamentos, pois temos partidas disputadas no meio e no final de semana. Sempre.
Daí, nestas circunstâncias, fica quase impossível entrosar o time, que acaba ficando longe de produzir o melhor futebol e que, muitas vezes, acaba fazendo partidas muito ruins, como aconteceu ontem na absurda derrota para o Cuiabá (1X0). A questão é que, além de perder, o time não produziu quase nada durante os 90 minutos e apenas 2 jogadores se destacaram, que foram Roger Guedes e Mantuan.
Quando vi o esquema tático (3-5-2) e a escalação para a partida contra o Cuiabá eu fiquei decepcionado, pois Vítor Pereira nunca tinha usado esses jogadores atuando juntos anteriormente. E daí o Corinthians começou a partida com um time que não possui qualquer entrosamento e com um esquema que é pouco utilizado pelo treinador, que é o 3-5-2.
Fazer isso na Europa, onde existe uma pré-temporada de, pelo menos, uns 45 dias e com os clubes disputando, no máximo 60 partidas durante a temporada inteira é uma coisa. Na Europa são poucas as semanas em que temos partidas no meio e no final da semana. E quando temos partidas das seleções nacionais (as datas FIFA) não se disputam partidas pelos campeonatos de clubes.
Porém, fazer isso no Brasil, onde a 'pré-temporada' dura 20 dias e os clubes jogam 80 partidas ou mais a cada ano é completamente diferente. Aqui até nas datas FIFA os campeonatos não param. Alguns clubes reclamam muito disso, pois muitos jogadores (brasileiros e estrangeiros) são convocados por suas seleções, desfalcando os clubes em partidas importantes. Outras vezes os jogadores voltam contundidos de suas seleções.
Na Europa é perfeitamente possível promover essas frequentes mudanças no esquema tático e na escalação. E isso ocorre pelo fato dos treinadores possuírem muito mais tempo para treinar e existir um intervalo de tempo maior entre uma partida e outra, permitindo que eles testem essas mudanças nos treinos.
Aqui no Brasil isso simplesmente não acontece, como já afirmei.
Então, Vítor Pereira deveria perceber a necessidade de se adaptar à essa dura e brutal realidade do futebol brasileiro, que possui um calendário totalmente irracional e estúpido e que prejudica muito a qualidade do futebol que é praticado no país, cujo nível é ridiculamente baixo, com poucas exceções.
Para se constatar isso basta assistir a um certo número de partidas do Brasileiro, mesmo aquelas que envolvem clubes tradicionais e que já conquistaram muitos títulos e que possuem torcidas numerosas.
A imensa maioria das partidas são muito ruins tecnicamente, com alguns momentos até constrangedores, que são disputadas em gramados que mais se parecem com verdadeiros pastos e nos quais até a iluminação é ruim (como ocorre no estádio do Red Bull Bragantino, por exemplo).
Não existe tempo entre uma partida e outra para se corrigir eventuais erros, treinar e ensaiar alguma jogada nova, pois as partidas são disputadas no meio e no final de semana.
Somente um completo maluco pode querer cobrar um futebol de qualidade nestas condições.
Nestas circunstâncias, de inexistir tempo para treinar e corrigir os erros do time, entendo que Vítor Pereira somente deveria mexer no esquema tático e na escalação do time quando fosse absolutamente necessário: jogadores suspensos, contundidos ou muito desgastados fisicamente.
Quando essas situações não estiverem presentes, ele deveria manter o mesmo esquema tático e o mesmo time titular. Se for mexer, muda apenas 2 ou 3 jogadores, preservando-se o mesmo esquema tático da partida anterior. Os jogadores irão, gradualmente, se acostumando e chegará um momento em que as substituições não surtirão tanto efeito, pois o time estará melhor entrosado.
As mudanças que ele faria seriam pontuais, portanto. É preciso ter um esquema tático e um time base (titular) definidos. Somente assim seria possível entrosar o mesmo, o que faria a produção do time melhorar.
Quem fez isso, e com muito sucesso, foi o Fábio Carille, em 2017. Ele tinha um elenco com poucos jogadores e tinha que disputar 4 campeonatos no ano: Paulista, Sulamericana, Copa do Brasil e Libertadores. Carille usou o Paulista para fazer testes e definir um esquema tático e um time titular. Ele usou as partidas do Paulista como se fossem treinos.
Quando ele definiu o esquema e o time titular, Carille passou a repetir sempre o mesmo esquema e o mesmo time, em todas as partidas, que era o seguinte: Cássio, Fagner, Balbuena, Pablo, Guilherme Arana; Gabriel, Maycon; Jadson, Rodriguinho, Romero; Jô.
Era utilizado um 4-2-3-1 quando o Corinthians atacava e quando o Corinthians era atacado montava-se um 4-4-1-1. Carille usou esses dois esquemas táticos e esse time a temporada inteira e deu certo, conquistando o Paulista e o Brasileiro. Substituições no time titular somente aconteciam quando os jogadores se contundiam ou estavam suspensos.
Esse é o trabalho que é possível de ser feito no Brasil, enquanto vigorar esse calendário estúpido e irracional que existe aqui. E o Vítor Pereira precisa, urgentemente, se adaptar à essa realidade.
É verdade que o Corinthians, nas últimas partidas, está sentindo falta de vários jogadores que são considerados titulares absolutos e que se contundiram, como são os casos de Fagner, João Victor, Maycon, Willian e Jô. Isso é metade do time. Sem falar de Paulinho, que somente deverá voltar a jogar em 2023.
E notem que não é apenas o Corinthians que está mal.
Outros clubes, que eram bastante elogiados pela mídia esportiva e por muitos torcedores, pelo trabalho realizado por seus treinadores, na temporada anterior, estão sofrendo bastante em 2022.
Vejam que o Fortaleza se classificou para as oitavas da Libertadores, mas é o lanterna no Brasileiro. O Red Bull Bragantino foi eliminado na Libertadores e está mal no Brasileiro (é o 16o. colocado, até a 9a. rodada). Dois clubes que fizeram ótimas campanhas no Brasileiro de 2021 agora estão muito mal no campeonato deste ano, pois o calendário deles ficou muito mais intenso e o desgaste dos jogadores é muito maior.
E estes eram dois clubes que eram apontados como exemplos de trabalhos bem realizados, por dois bons treinadores, que são Marcelo Barbieri (RBB) e Juan Pablo Vojvoda (Fortaleza). Eles também foram vítimas desse calendário estúpido do futebol brasileiro. Mas é claro que, no caso deles, não se chama tanta atenção quanto o Corinthians.
Então, nestas circunstâncias, o que Vítor Pereira deveria fazer? O mesmo que o Carille fez em 2017, que é definir um esquema tático e um time titular e utilizar o mesmo sempre, mas não em todos os campeonatos, pois isso é inviável.
Para resolver isso, Vítor Pereira deveria priorizar uma competição (digamos, o Brasileiro ou a Copa do Brasil) e usar formações diferentes (alternativas) apenas na Libertadores e na Copa do Brasil (ou no Brasileiro). As substituições seriam pontuais, trocando apenas os jogadores suspensos, contundidos ou muito desgastados fisicamente.
E o esquema tático não mudaria, independente do campeonato, o que permitiria que os jogadores fossem assimilando o mesmo.
A torcida do Corinthians até poderia não gostar disso, mas o fato concreto é que é necessário reconhecer que o time não tem condições de ser competitivo, simultaneamente, em 3 campeonatos tão difíceis quanto a Libertadores, o Brasileiro e a Copa do Brasil.
Não tem como vencer os três campeonatos. É impossível, ainda mais para um treinador que não fez pré-temporada com o clube e que chegou ao Corinthians com os campeonatos em andamento e durante os quais não existe tempo livre para se treinar.
Portanto, entendo que Vítor Pereira deveria usar as partidas para criar esse entrosamento, sem o qual time nenhum consegue jogar bem, tal como o Carille fez em 2017. Mas para fazer isso é necessário parar com essa história de mudar o esquema tático e o time titular a cada partida.
Entendo que se o treinador corintiano não adotar uma postura mais pragmática e realista, então Vítor Pereira poderá acabar fracassando nos 3 campeonatos ao mesmo tempo.
E isso a Fiel Torcida, com seus mais de 32 milhões de torcedores, não vai aceitar, até pelo fato de que o clube não conquistou nenhum título em 2020 e em 2021. E em um clube grande como é o Corinthians isso costuma resultar na demissão dos treinadores, por mais qualificados e competentes que sejam.
Conclusão!
Entendo que Vítor Pereira deveria fazer o seguinte:
1 - Definir um esquema tático, que seria utilizado em todas as partidas, de todos os campeonatos;
2 - Priorizar 1 dos 3 campeonatos que o Corinthians disputa;
3 - Definir um time base, ou titular, que seria utilizado no campeonato para o qual fosse dada prioridade. Substituições seriam pontuais (por contusão, suspensão ou degaste excessivo).
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